martedì, dicembre 04, 2007

Ter mais de 65 anos em Portugal é...?

Quando entrei no autocarro, todos os gestos mecanizados pela rotina diária fazem-me adormecer com o balanço desta máquina que me envolve.
Fecho os olhos a cada salto que o autocarro dá quando tropeça num buraco e desperto quando os travões já gastos tendem a chiar sempre que a luz do stop acende...Nestes dias em que tudo é tão igual, poucas são as imagens realmente curiosas que gravo no inconsciente...
Só a repetição exaustiva de uma sequência de imagens me fazem escrever agora.
Não sei se "chocada" é o termo realmente adequado, mas percebi que os condutores de autocarro são um Choque para a população mais atenta, que entre um olho aberto e outro fechado repara nestas coisas...
Consecutivamente sem nenhuma razão aparente, tendem a esquecer-se de paragens, o que me faz acordar com o histerismo matinal de quem não saiu na paragem que queria;
Consecutivamente fecham as portas sem as senhoras mais idosas terem saído ou fecham as portas quando elas estão a sair. Empurram-nas brutamente para a rua, escorraçam-nas da sua máquina pública com a desculpa da pressa alheia e com o atraso justificado pelo trânsito que é constante, absolutamente desadequadas das necessidades de quem já não tem idade para estas andanças.
Não fosse a função desta lagarta com rodas encurtar-lhes os passos e eu diria que para segurança da nossa massa populacional mais idosa, deveria existir um autocolante a desaconselhar este transporte a partir de uma certa idade...
No outro dia esta verdade tornou-se um cúmulo.
(Voltando à velha história do "Era uma vez...") Uma senhora foi arrastada para a rua com o fechar das portas porque não fugiu delas a tempo.
Repito: Fugiu.
E com a calma imposta pela idade e a rapidez destas máquinas, que parece que vomitam pessoas em vez de as deixarem sair, fez com que a senhora caísse na rua, de frente, com força em cima do alcatrão e com a porta fechada atrás de si.....
Desta vez não acordei, fui sobressaltada e juntei-me ao manifesto de indignação que se gerou nos restantes ocupantes desta "vomitadeira" de velhotes, que imediatamente disseram «abre-te sésamo» para acudirem a pobre senhora, que estendida no chão, longe da vista do condutor, se tentou levantar sem qualquer mágoa neste processo, que pelo que percebi é habitual num mundo que não está adequado a quem nasceu nas épocas "calmas" de opressão e de poucos transportes.
Nestas viagens leio, ouço música, escuto as conversas alheias, penso na vida mas ainda me sobra (sempre) espaço e tempo para me indignar e pensar que, desumana sou eu que em vez de escrever tudo isto aqui, num local público aos olhos de curiosos e longe da vista dos responsáveis legais por esta e outras situações idênticas, devia estar à porta da Carris com uma folha de processo, voz de indignação e a força necessária que tenho por mim e por aquela senhora.
Fica o desabafo.
Ah e uma última constatação:
As minhas raivas de criança voltaram… quando não há explicação para uma injustiça, quando não há argumentos, quando não sabemos porque é que aquele horror aconteceu connosco, a reacção de uma criança é inevitavelmente chorar, gritar e tentar morder quem lhe fez mal... era o que me apetecia… não pensar se quer dois segundos no assunto e morder o motorista para lhe provar que se ele tem uma nódoa negra porque eu lhe mordi, a senhora tem muitas mais porque ele a empurrou!
Bem hajas Martinha que me lembras que há sempre uma criança desgovernada dentro de nós com soluções tão pouco éticas mas tão eficazes...