martedì, dicembre 04, 2007

Ter mais de 65 anos em Portugal é...?

Quando entrei no autocarro, todos os gestos mecanizados pela rotina diária fazem-me adormecer com o balanço desta máquina que me envolve.
Fecho os olhos a cada salto que o autocarro dá quando tropeça num buraco e desperto quando os travões já gastos tendem a chiar sempre que a luz do stop acende...Nestes dias em que tudo é tão igual, poucas são as imagens realmente curiosas que gravo no inconsciente...
Só a repetição exaustiva de uma sequência de imagens me fazem escrever agora.
Não sei se "chocada" é o termo realmente adequado, mas percebi que os condutores de autocarro são um Choque para a população mais atenta, que entre um olho aberto e outro fechado repara nestas coisas...
Consecutivamente sem nenhuma razão aparente, tendem a esquecer-se de paragens, o que me faz acordar com o histerismo matinal de quem não saiu na paragem que queria;
Consecutivamente fecham as portas sem as senhoras mais idosas terem saído ou fecham as portas quando elas estão a sair. Empurram-nas brutamente para a rua, escorraçam-nas da sua máquina pública com a desculpa da pressa alheia e com o atraso justificado pelo trânsito que é constante, absolutamente desadequadas das necessidades de quem já não tem idade para estas andanças.
Não fosse a função desta lagarta com rodas encurtar-lhes os passos e eu diria que para segurança da nossa massa populacional mais idosa, deveria existir um autocolante a desaconselhar este transporte a partir de uma certa idade...
No outro dia esta verdade tornou-se um cúmulo.
(Voltando à velha história do "Era uma vez...") Uma senhora foi arrastada para a rua com o fechar das portas porque não fugiu delas a tempo.
Repito: Fugiu.
E com a calma imposta pela idade e a rapidez destas máquinas, que parece que vomitam pessoas em vez de as deixarem sair, fez com que a senhora caísse na rua, de frente, com força em cima do alcatrão e com a porta fechada atrás de si.....
Desta vez não acordei, fui sobressaltada e juntei-me ao manifesto de indignação que se gerou nos restantes ocupantes desta "vomitadeira" de velhotes, que imediatamente disseram «abre-te sésamo» para acudirem a pobre senhora, que estendida no chão, longe da vista do condutor, se tentou levantar sem qualquer mágoa neste processo, que pelo que percebi é habitual num mundo que não está adequado a quem nasceu nas épocas "calmas" de opressão e de poucos transportes.
Nestas viagens leio, ouço música, escuto as conversas alheias, penso na vida mas ainda me sobra (sempre) espaço e tempo para me indignar e pensar que, desumana sou eu que em vez de escrever tudo isto aqui, num local público aos olhos de curiosos e longe da vista dos responsáveis legais por esta e outras situações idênticas, devia estar à porta da Carris com uma folha de processo, voz de indignação e a força necessária que tenho por mim e por aquela senhora.
Fica o desabafo.
Ah e uma última constatação:
As minhas raivas de criança voltaram… quando não há explicação para uma injustiça, quando não há argumentos, quando não sabemos porque é que aquele horror aconteceu connosco, a reacção de uma criança é inevitavelmente chorar, gritar e tentar morder quem lhe fez mal... era o que me apetecia… não pensar se quer dois segundos no assunto e morder o motorista para lhe provar que se ele tem uma nódoa negra porque eu lhe mordi, a senhora tem muitas mais porque ele a empurrou!
Bem hajas Martinha que me lembras que há sempre uma criança desgovernada dentro de nós com soluções tão pouco éticas mas tão eficazes...

lunedì, novembre 26, 2007

WC?!

Às vezes questiono-me porque deixo sempre a roupa espalhada,
ou porque olho para as plantas com o intuito de as regar e depois nunca o faço,
ou porque é que adoptei o secador do cabelo como aquecedor pessoal...???
Sou tão normal como todos os outros normais incógnitos que andam de transportes públicos como eu e que passam despercebidos como eu.
Fazer estes pequenos apontamentos pode até nem parecer normal mas passam despercebidos..e o que é ser normal?
Para mim estas perguntas são um acto higiénico, tão fundamental como outro qualquer. Perguntas que sujam o papel de letras e libertam espaço á mente para dar aso a perguntas mais ineteressantes...

O que é que eu vou vestir amanhã???

Ok, estou com uma dearreia mental...
Ao contrário de muitos, eu até gosto de me sentir inculta perto de alguém.
Apenas significa que escolhi a pessoa certa para conversar...

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Um dia "alguém" vai ler o que escrevo...
Hoje é o dia!

sabato, novembre 24, 2007

bonjour tristesse

Hoje riu-me e penso que tanta sensibilidade faz do meu coração um regador de sangue sobre os olhos ociosos que me viram ontem chorar..

Não há metáforas para explicar que existe algo pior do que uma desilusão amorosa.
Existe, eu sei que existe. Eu vi que existe, eu ouvi que existe, eu cheirei que existe, eu provei que existe, eu senti que existe...
É uma existencia tão real e afastada da leveza do sonho, que transmite força á queda, dureza ao chão e um forte empurrão nas costa que nos faz cair de frente.
A desilusão amorosa é o despertador que me arranca do mundo dos sonhos.
Permite-me escrever, gritar, chorar, sofrer durante dias e adormecer em sonhos mais profundos de onde o despertar é sempre mais demorado e custoso.
Permite-me saltar de palavra em palavra à procura de explicações... falar mais dela do que da paixão enquanto durou.

E a amizade?
Ando a reescrever o conceito de amizade na minha história e ainda não descobri as palavras certas para o inicio.
Chega a ser algo mais complexo do que o próprio amor...
Conheço algumas palavras ainda sem contexto que já estão direccionadas para o meio da história mas nenhuma que explique o começo e o final...
Na amizade não existem promessas de eternidade, não existem provas de valor, não exitem dois niveis de compreensão... a amizade acontece.
É a base da tarte do recheio que é a nossa vida.
Quando tropeçamos no amor, caimos no odio, na tristeza, na desilusão e na certeza que um dia voltaremos a consumir a mesma droga que nos faz rir.
Mas se a queda for provocada pela amizade, nem chão existe para nos acordar à força porque não existia sonho. É uma queda no sem fundo.
A queda é a indignação, o abismo é a morte.
Sem rancor ficam os fantasmas; Com rancor teria de fazer sepulturas.
Prefiro conviver com fantasmas, com zombies, que estão mas não são, do que viver num cemitério.

Ontem não caí... subi a um muro bem alto para o abismo ser maior..

Vou voltar a adormecer, e voltar aos sonhos que me deixam doente, que me drogam que me sofocam de incerteza mas onde por momentos me conseguem fazer rir.

Até amanha tristeza, vou voltar a dormir.

mercoledì, novembre 21, 2007

Made in China

Ando a precisar de fazer uma limpeza e uma desfragmentação ao meu disco rígido. Não sei onde andam as settings e só tenho pena de não ter nascido com um botão de reset (embora a minha mãe diga que o do volume faria mais falta).
Na era da robótica, da ciência exacta e das explicações ciêntificas, em que tudo se formata, tudo se desconstroi, tudo tem um “arranjinho”..como é que o cérebro humano ainda não tem uma entrada USB para ligar um cabo ao coração?
Coisas essenciais e que faziam tanta falta, continuam desconexas, trazem bloqueios ao sistema… isto ‘tá cada vez mais lento e nem CD para voltar a formatar existe...
Raios...se calhar é mesmo importante entregar-me de vez a isto a que chamam informática e parar de tentar dar explicações incoerentes para todo o meu ser orgânico que nem manual de instruções trouxe...
Começo a desconfiar que a culpa de tanta imperfeição é da cegonha que em vez de vir de França veio da China.

lunedì, novembre 19, 2007

E nasceu mais uma excêntrica!

Baseada no conceito de riqueza do Berardo, ouvi ontem uma boa justificação para a surdez..

“Se fosse pobre era surda mas sendo “rica” sou excêntrica.” (rica de espírito!)
Isto dá vontade de rir quando contextualizar a expressão:
O tema de conversa ontem ao jantar era a desgraça vertiginosa em que se transformou a programação da nossa televisão.
No entanto, referi a meio da conversa uma série que adoro ver ao domingo á noite "Conta-me como foi" na rtp1.
Para quem não conhece é uma série de época que nos transporta para a realidade dos anos 60 em Portugal. Mais precisamente num bairro lisboeta através de uma típica família que vive naquela época e a sua vivência no bairro, retratando também o país naqueles tempos.
Quando falava desta série, alguém que está a ficar surdo disse-me que achava interessante a ideia subjacente à série mas nunca consegui ver um episodio até ao fim... ainda suspeitei da qualidade dos actores, dos textos ou até mesmo da veracidade histórica...mas a explicação para tal desprezo foi muito mais subtil..
"Não me percebes..eu estou habituada ás séries da cabo...são todas em inglês, eu só ouço inglês..quando me ponho a ver séries portuguesas não os percebo..."
A risota foi geral...as lágrimas a saltar como os desenhos animados..o bater convulsivo com a mão na mesa e a associação imediata aos gato fedorentos e ao Berardo...
Mas a pessoa em questão insiste...
"Eu não sou surda...simplesmente estou habituada a determinada frequência de som emitidas pelos ingleses, bem como á leitura de legendas... quando tento ver uma série em português, não os percebo..."

É a senhora Berado lá de casa...na verdade não é surda, é excêntrica!

martedì, novembre 13, 2007

Paixão

As bochechas são o alvo da cor, nos joelhos desaparece a gravidade e o inverno chegou á barria…

Platonismo.
...

Desilusão.

mercoledì, novembre 07, 2007

metáforas

Depois de um texto tão longo...e de um desabafo tão prelongado...só restou a ultima frase...

Um dia apaixonei-me e nesse dia aprendi a escrever metáforas.

giovedì, settembre 27, 2007

Porra o amor é fodido!!

sabato, settembre 22, 2007

para ti Pimenta


Li uma vez este texto e é sem duvida a descrição perfeita dos "miaus lindos dos mundos todos"!





"...Um gato vive um pouco nas poltronas, no cimento ao sol, no telhado sob a lua. Vive também sobre a mesa do escritório, e o salto preciso que ele dá para atingi-la é mais do que impulso para a cultura. É o movimento civilizado de um organismo plenamente ajustado às leis físicas, e que não carece de suplemento de informação. Livros, papéis e fotografias beneficiam-se com a sua presteza austera. Mais do que a coruja, o gato é símbolo e guardião da vida intelectual..."

Perde o Gato
Carlos Drummond de Andrade
Crónica extraída do livro Cadeira de balanço (Editora Record, RJ
)

texto sem titulo

A minha vida prende-se com pensamentos complicados, com frases complexas e incompletas que se soltam num panóplia de palavras fáceis sem sentido…
O meu eterno problema de expressão.
Adormeço todas as noites com mil guiões sem filme á vista.
Histórias minhas, histórias inventadas…sou apenas uma boa contadora de histórias para mim própria sobre as quais adormeço tranquila.
Os sonhos em nada reflectem essas histórias.. de real, só a minha certeza de que aqueles sonhos oníricos, não passaram apenas de devaneios do meu inconsciente.
Muitos meses passaram com falsas tranquilidades, vivendo falsas utopias egocêntricas que me prenderam as mãos e os pensamentos, desordenando-os e enlouquecendo-me a escrita.
Agora mais calma, e olhando para traz, percebi que tudo não passou de uma Paz Poder que me mantinha apática, em que nada fazia sentido. Sobre nada expus a minha opinião e só o meu empenho naquilo a que chamo trabalho e que não passa da minha evolução pessoal me foi fazendo respirar em “paz”.
Que breve loucura me deu e me fez querer estender os dedos para anotar mais uma vez o que se vai passando ca dentro.. foi no entanto de tão breve duração que nem o mais pomposo final de texto me iria deixar satisfeita com tantas palavras complicadas que fazem fila para sair.
Não. Não é perfeccionismo, é tranquilidade.. nada mais consigo escrever, mas muito, muito mais me apetecia deixar escrito, em frases como estas que só a mim me trazem sentido.

giovedì, luglio 19, 2007

Dezasseis

Ai as mulheres são impossiveis. Alimentamo-nos de migalhas diáriamente, mastigamo-las e mastigamo-las...
Mas afinal, não estou a dizer nada de novo porque a vida é mesmo assim, "feita de pequenos nadas."

martedì, luglio 10, 2007

Pára Raios

Andaste entretido com a rega de terrenos pousios
e em vez de árvores, fizeste nascer um enorme lamaçal…
Agora vais rastejar-te neles!… Rasteja-te na lama que formaste!

Se quero?
Só quando a lama secar no teu corpo de roupas rasgadas, coberto de cansaços,
Quando o sol te der a cor da terra e a lua se rir de ti lá do alto..
Só quando chegares a chorar…quando os murmúrios forem soluços…
Quando desejares nunca ter desejado todo o vasto mundo feminino.
Só quando Implorares… Exigires respostas…
Só quando fizeres perguntas ás quais não vou responder,
Então sim, vou querer. Quero querer...
…mas só quando te tornares em nada.
"Vou dar-te apenas o que não queres ter e vais-me amar…"

Imploras agora quereres que nunca quiseste… Quereres…!
Algo tão fútil que nos enche o ego e nos faz rir…
Também quero drogar-me de insónias com nomes adoçados!!!
Também quero os campos de margaridas sobre o Tejo!!!
Também quero mastigar palavras de algodão doce!!!
Também queria querer!!!
Este lamaçal tornou-me numa ilha deserta, numa ilha sem ninguém.

Apresentaste-me o “sem querer”.
E eu faço questão de te apresentar o “não querer”.

venerdì, giugno 01, 2007

âmago 11

Quando as palavras criam texto e textos, longos como os rios e que se fazem desaguar em ideias que nada significam, mais vale permanecer calada no silêncio das horas e ouvir o q os outros têm para me contar..

Salomé

Insónia roxa. A luz a virgular-se em medo,
Luz morta de luar, mais Alma do que lua...
Ela dança, ela range. A carne, álcool de nua,
Alastra-se para mim num espasmo de segredo...

Tudo é capricho ao seu redor, em sombras fátuas...
O aroma endoideceu, upou-se em cor, quebrou...
Tenho frio... Alabastro! A minha´alma parou...
E o seu corpo resvala a projectar estátuas...

Ela chama-me em Íris. Nimba-se a perder-me,
Golfa-me os seios nus, ecoa-me em quebranto...
Timbres, elmos, punhais... A doida quer morrer-me:

Mordoura-se a chorar - há sexos no seu pranto...
Ergo-me em som, oscilo, e parto, e vou arder-me
Na boca imperial que humanizou um Santo...

Mário de Sá Carneiro, Lisboa 1913

mercoledì, aprile 04, 2007

"A dependência é uma besta que da cabo do desejo
e a liberdade é uma maluca que sabe quanto vale um beijo."

Jorge Palma

martedì, marzo 20, 2007

Ao homem da minha vida:

O meu pai tem o sorriso mais bonito do que qualquer outro pai. Gosto muito dele por causa disso!
Até diria que é o melhor pai do mundo sem conhecer os outros... porquê?
hummm
Porque acordava cedo para me gravar os desenhos animados;
Porque me levava ás cavalitas;
Porque contava a história do elefante grandão para eu dormir;
Porque me leva a conhecer o país de norte a sul;
Porque me comprou a minha primeira VHS - A Pequena Sereia;
Porque me chama filhoca, amor e preta;
Porque parece um aspirador quando come tal como eu, ou eu tal como ele.. o que tem bastante piada;
Porque sabe muitas musicas, ditos e proverbios que mais niguém sabe;
Porque tem um nariz igual ao meu;
Porque sabe qual é o meu doce preferido;
Porque conduz bem;
Porque gosta muito de mim;
Porque...
Porque...
Porque...
e
Porque continua a gostar muito de desenhos animados tal como eu!
Mas o que gosto mesmo no meu pai, é da expressão que faz quando recebe um presente!
Além de todos os outros, hoje também é o teu dia, Babbo mio*

sabato, marzo 17, 2007

Adam's Apple

Este filme foi apresentado no Fantas '06.
É sem duvida a história de humor negro mais bem colocada no grande ecrã.
Em linhas gerais existe um objectivo no filme.. fazer uma tarte de maçã!
Toda a história desenvolve-se a partir deste objectivo pouco definido para um ex. presidiário nazi que, é recolocado numa paroquia local a fim de criar novos objectivos pelos quais terá de lutar.
Absolutamente descrente nesta solução de criação de novos objectivos, este nazi refere em tom desprezível e de gozo ao padre da paroquia que o seu objectivo é fazer uma tarte de maçã.. objectivo com o qual o padre concorda de imediato, com um sorriso radioso!
A partir deste momento, o personagem que representa o nazi - Adam - percorre todo o desenrolar do filme de boca aberta e com cara de incrédulo relativamente aos acontecimentos bizarros que vão surgindo com os restantes personagens e com a macieira que iria fornecer os frutos para a sua tarte.
Ah, Bem Haja a quem escolheu a banda sonora do inicio/final do filme.. melhor seria impossível.
Um dos meus filmes favoritos.. ainda não se encontra disponível em dvd nem sei quando estará disponivel para venda mas é sem duvida obrigatório a todos, principalmente a quem tem um apimentado sentido de humor.
Insólito!


http://www.moviemaze.de/media/trailer/view/12837/ee2311c70442bae051057521c5cb36bc/2826_trailer01-da_480.mov

Memorables Quotes

Stephan: Will you marry me when you are seventy? You'd have nothing to lose.

(...)

Stephan: P. S. R. Parallel Synchronized Randomness. An interesting brain rarity and our subject for today. Two people walk in opposite directions at the same time and then they make the same decision at the same time. Then they correct it, and then they correct it, and then they correct it, and then they correct it, and then they correct it. Basically, in a mathematical world these two little guys will stay looped for the end of time. The brain is the most complex thing in the universe and it's right behind the nose.

domenica, marzo 11, 2007

Suplicas de negação

Suplico suplico suplico suplico...
Quando antes o ar era medo no escuro do meu quarto,
agora o ar é o conforto dos teus braços... faz adormecer-me e sonhar que eles estavam a abraçar-me antes de adormecer.
Já não tenho medo. Medo de quê?!
De no escuro não encontrar o que perdi?
Procuro antes na manta de retalhos da noite, o conforto das memorias que me tapam e aconchegam. De manhã, rompem os cavalos brancos a galope pelos vidros da janela do meu antigo quarto escuro. Trazem o dia e a luz fria de Inverno, fazem seus menssageiros desmontar e entregar a meus olhos os teus traços limpidos e crus numa travessa folheada a ouro.
O cenário é ambiguo... escondo-me debaixo de uma manta de retalhos enquanto me pousam no colo a tua travessa de ouro...
Mantenho-me escondida e os cavalos brancos saltam de volta a cerca onde repousava o meu olhar ofuscado.
Através da voz silenciosa da noite chamo baixinho pelo sono e as tuas linhas desenham-se suavemente na penumbra do quarto por entre as minhas pestanas já fechadas e a tua imagem fugidia transporta-me para o calor da escuridão e do nada.
"Less is more" (Que deprimente dizer isto... Interrompe o meu sono com cheiro e voz! Não vivo de imagens!)
Mas se não tornas, então que torne o escuro todas as noites, para aqui no meu quarto sonhar que me abraças.
"Vou contar tudo o que meu amor tem:
Tem gemas no olhar
E açúcar no falar
Gotinhas de limão à flor da pele
Faz bolo de amassar
Trouxinha de enrolar
Ninguém me adoça tanto como ele"

Ala dos Namorados


www.aladosnamorados.net

mercoledì, febbraio 28, 2007

o tempo também se engana...

"... fora de tempo ouviu-se um grito mudo."
in Fora do Tempo, Luis Represas

âmago 10

Todas as Cartas de Amor são Ridículas

Todas as cartas de amor são
Ridículas.
Não seriam cartas de amor se não fossem
Ridículas.

Também escrevi em meu tempo cartas de amor,
Como as outras,
Ridículas.

As cartas de amor, se há amor,
Têm de ser
Ridículas.

Mas, afinal,
Só as criaturas que nunca escreveram
Cartas de amor
É que são
Ridículas.

Quem me dera no tempo em que escrevia
Sem dar por isso
Cartas de amor
Ridículas.

A verdade é que hoje
As minhas memórias
Dessas cartas de amor
É que são
Ridículas.

(Todas as palavras esdrúxulas,
Como os sentimentos esdrúxulos,
São naturalmente
Ridículas.)

Álvaro de Campos

giovedì, febbraio 22, 2007

Lobo Mau, a Lua é mentirosa.

Podes ser mau.
Podem dizer que o és, mas quando te rendes de cabeça erguida ao céu estrelado sei que é a mim que te entregas Lobo Mau.
Mas as noites passam.. e o teu uivo tornou-se a minha dependência e o teu ritual..
Sem ele deixavas de ser o Lobo Mau e eu o sorriso mentiroso da lua..
Há dias de vergonha..há dias em que me escondo e acho que não te posso mentir mais e nesses dias não te ouço.. mas o sorriso é sincero acredita(!), tão sincero como a minha permanência cá em cima.
Sabes Lobo Mau, fiz do nosso ritual a nossa loucura.. tu és um lobo e eu um sorriso prateado.. cativaste-me como fez a rosa com o Principezinho, mas eu nunca poderei descer do céu. Dos uivos só nascem eternos pedidos que quase me fazem cair mas nunca uma escada que me faça descer..
Apenas prometo este eterno sorriso longínquo que mantém o nosso ritual. Tu cativas-me com a tua musica e eu a ti com a minha luz.
Mas este magnetismo mascara o segredo que o meu sorriso esconde e o teu uivo abafa..
- Não é pelo uivar do lobo que a lua um dia descerá do céu...

sabato, febbraio 17, 2007

âmago 9

Amiga

Deixa-me ser a tua amiga, Amor,
A tua amiga só, já que não queres
Que pelo teu amor seja a melhor,
A mais triste de todas as mulheres.

Que só, de ti, me venha mágoa e dor
O que me importa a mim?!O que quiseres
É sempre um sonho bom! Seja o que for,
Bendito sejas tu por mo dizeres!

Beija-me as mãos, Amor, devagarinho …
Como se os dois nascêssemos irmãos,
Aves cantando, ao sol, no mesmo ninho …

Beija-mas bem! … Que fantasia louca
Guardar assim, fechados, nestas mãos
Os beijos que sonhei prà minha boca! …


Florbela Espanca, o livro da mágoas

martedì, febbraio 13, 2007

âmago 8 - dia dos namorados

Amor
Cala-te, a luz arde entre os lábios,
e o amor não contempla, sempre
o amor procura, tacteia no escuro,
essa perna é tua? Esse braço?
subo por ti de ramo em ramo,
respiro rente à tua boca,
abre-se a alma à língua, morreria
agora se mo pedisses, dorme,
nunca o amor foi fácil, nunca,
também a terra morre.


Eugénio de Andrade

(por ser o dia de amanhã representativo de amor conjugal, por estar este ano sozinha e por durante anos ter os dois ultimos versos deste poema de companhia, dedico-o a todos aqueles que tal como eu sabem viver este dia sem o outro.)

Também deixo um breve comentário ao dia dos namorados visto ser o dia mais consumista do ano..
Consomem-se flores, perfumes, roupa, cd’s, chocolates...no fundo sensações ..
Sensações tácteis, olfactivas, gustativas, auditivas e visuais.. é neste dia que se gastam as palavras..é neste dia que a palavra amo-te não se leva a sério por ser o eco da rua.
Nunca dei importância a este dia seja "eu sozinha" ou "eu a dois"...
Adoro receber flores em dias de Inverno porque são raras,
Adoro receber chocolates quando estou triste,
Adoro receber perfumes quando a poluição da cidade me deixa zonza..
Adoro o gestos da boca de quem espontaneamente e inesperadamente chega a dizer que me ama.
Mas neste dia por muito sincero que seja o gesto, lembro-me DO poeta fingidor que fingia que era dor a dor que de veras sente...e os namorados seguindo suas palavras quase que fingem que é amor o amor que de veras sentem.
No entanto, não desprezo este dia porque não é algo que mereça desprezo, apenas me é indiferente..também não fico irritada por ver corações a saírem dos sorrisos de quem namora e a derreterem quando chegam ao pé da minha solidão.
Acho sobre tudo que é um bom dia para valorizar o que achamos lamechas durante todo o ano, e que neste dia nos é permitido gritar aos quatro ventos sem ouvir bocas de reacção.
Aproveito como tal, para deixar aqui mais um dos meus âmagos poéticos, pois esta sim é a minha paixão, as palavras que quase cantadas saem do coração dos nossos poetas e consolam as almas de quem através delas, exterioriza sentimentos e emoções.



venerdì, febbraio 09, 2007

(...) Tempo.. o único factor que faz a lua subir e descer no palco estrelado da sua actuação nocturna deixando nas horas os aplausos de tão maravilhoso desempenho. (...)
(...)Em campo aberto ou em embuscada criamos laços e rituais, criamos palavras opostas e uma ponte de união. (...)

lunedì, febbraio 05, 2007

Beauty is a form of genius - is higher, indeed, than genius, as it needs no explanation. It is of the great facts in the world like sunlight, or springtime, or the reflection in dark water of that silver shell we call the moon.
Oscar Wilde

sabato, febbraio 03, 2007

...

Hello, stranger.

venerdì, febbraio 02, 2007

dias compridos

Nós fazemo-nos depender quando cativamos e temos tendencia a pesar na vida dos outros quando a amizade ou amor se deviam ligar à leveza que devemos saber criar.
Mas tudo nasce no peso, no querer incondicional e na dependência. Esse peso vai evaporando com o calor da consciência, dos valores morais e da razão.
Toda a inconstância de sentimentos, todas as horas mortas em que sofremos trazem-nos recompensa.
Fui má aluna mas aprendi a ser leve.

giovedì, febbraio 01, 2007

sublinhados a lápis 4

(Apetecia-me escrever aqui um capitulo inteiro deste livro, talvez o livro todo... mas quem não conhece a famosa raposa do principezinho?..então acho que não há mais nada a dizer..apenas o deleite que provem da leitura deste livro explica o amor que tenho a este pequeno excerto. A vida é tão simples, nós é que tendemos inexplicavelmente a complica-la.)

"- Não posso ir brincar contigo - disse a raposa. - Ainda ninguém me cativou...
- ...(principezinho) Ando à procura de amigos. «Cativar» quer dizer o quê?
- É uma coisa de que toda a gente se esqueceu - disse a raposa. - Quer dizer «criar laços»...
- Criar laços?
- Sim, laços - disse a raposa. - Ora vê: por enquanto tu não és para mim senão um rapazinho perfeitamente igual a cem mil outros rapazinhos. E eu não preciso de ti. E tu também não precisas de mim. Por enquanto eu não sou para ti senão uma raposa igual a cem mil outras raposas. Mas, se tu me cativares, passamos a precisar um do outro. Passas a ser único no mundo para mim. E eu passo a ser única no mundo para ti...
(...)
- ... (raposa) Mas, se tu me cativares, a minha vida fica cheia de sol. Fico a conhecer uns passos diferentes de todos os outros passos. Os teus hão-de chamar-me para fora da toca, como uma música. E depois, repara! Estás a ver aqueles campos de trigo ali adiante? Eu não gosto de pão e, por isso, o trigo não me serve para nada. Os campos de trigo não me fazem lembrar nada. E é uma triste coisa! Mas os teus cabelos são da cor do ouro. Então, quando tu me tiveres cativado, vai ser maravilhoso! O trigo é dourado e há-de fazer-me lembrar de ti. E hei-de gostar do som do vento a bater no trigo...

A raposa calou-se e ficou a olhar para o principezinho durante muito tempo.

- Se fazes favor... Cativa-me! - acabou finalmente por pedir.
(...)
- E tenho de fazer o quê? - disse o principezinho.
- Tens de ter muita paciência. Primeiro, sentas-te longe de mim, assim, na relva. Eu olho para ti pelo canto do olho e tu não dizes nada. A linguagem é uma fonte de mal entendidos.
Mas podes sentar-te cada dia um bocadinho mais perto...

O principezinho voltou no dia seguinte.

- Era melhor teres vindo à mesma hora - disse a raposa. - Por exemplo, se vieres ás quatro horas, ás três, já começo a estar feliz. E quanto mais perto for a hora, mais feliz me sinto. Às quatro em ponto hei-de estar toda agitada e toda inquieta: fico a conhecer o preço da felicidade! Mas se chegares a uma hora qualquer, eu nunca vou saber a que horas hei-de começar a arranjar o meu coração, a vesti-lo, a pô-lo bonito...
Precisamos de rituais.
(...)
- Adeus...
- Adeus - despediu-se a raposa. - Agora vou-te contar o tal segredo. É muito simples: só se vê bem com o coração. O essencial é invisível para os olhos...
(...)
- Os homens já não se lembram desta verdade - disse a raposa. - Mas tu não te deves esquecer dela. Ficas responsável para todo o sempre por aquilo que cativaste. Tu és responsável pela tua rosa...
- Eu sou responsável pela minha rosa... - repetiu o principezinho, para nunca mais se esquecer."

Antoine de saint-Exupéry, O Principezinho

sublinhados a lápis 3

"Thou Knowest the mask of night is on my face,
else would a maiden blush bepaint my cheek
for that which thou hast heard me speek tonight."

Não fosse a máscara da noite no meu rosto,
um casto rubor me acudiria á face
por teres ouvido o que eu disse esta noite.

IN Retrato de Dorian Gray, Oscar Wilde

giovedì, gennaio 11, 2007

desabafo

Nada é eterno, nem nada deve ser eterno..
Tudo deve durar apenas o tempo necessário para se tornar inesquecivel.

domenica, gennaio 07, 2007

Já nos conheciamos?

Guardamos eternamente qualquer imagem logo que nos é apresentada, e é nesse ínfimo momento, que registamos esboçadamente os contornos necessários daquela novidade ao nosso conhecimento.
Nasceu o dia seguinte (!) e com ele surge a distância. Um depois do outro, os dias passam ás cambalhotas no tambor da nossa máquina do tempo. Com eles surgem as saudades. Saudades ás quais nos agarramos e sob o nome das mesmas nos damos ao direito de remexer em todas as gavetinhas da nossa memória à procura daqueles postais ilustrados, impressos com as tais imagens abstractas de tudo o que não queremos esquecer.
Quando voltamos a fechar as gavetas regressamos à realidade... mas, é tão necessário o momento em que formamos essas imagens como aquele em que as destruímos… É necessário acordarmos um dia e olharmos de outra perspectiva, com outros olhos para tudo o que conhecemos e que deixamos que nos trespasse com indiferença, como cada lufada de ar que inspiramos..
Vou inspirar fundo e aperceber-me de que o fiz! Vou reconstruir agora o meu mundo com novas imagens sem mudar as coisas de lugar. Tudo voltará a ganhar forma, tudo voltará a ganhar cor e tudo voltará a ser um novo motivo de interesse à minha mente curiosa. Vou fazer isso com tudo o que me rodeia e tudo será interessante.

Aqui estranhamente está retratada a ponte que conheço desde que nasci.. mas afinal podias ser tu naquela imagem.

mercoledì, gennaio 03, 2007

"Lolita",estás aí?

Ela nunca teve muito a dizer.
Escondeu-se de ti a traz de mim.
Usava o meu vestido, usava o meu sorriso, usava a minha voz, usava o meu perfume que tu nunca chegas-te a sentir.
Nunca soube quem ela era, nunca se apresentou.
Descaradamente fez-se de sombra do meu corpo,
presença permanente igual a tantas que me acompanham
e por mim são ignoradas diariamente.
Hoje à noite apoderou-se totalmente de mim,
quis dizer-me que ela sou eu..
Quase acreditei em tal mentira..um alter-ego, que tonta.
Ela continua comigo como um fantasma que me olha nos olhos e a sua presença ás vezes arrepia-me.
Quando te quer ver adorna-me de volúpia e sensualidade..
Ela tem-te procurado?
Queria perguntar-te, queria perceber, queria que fosse ela a responder-me..
Mas o som bate o pé à física e não se propaga, não vos oiço.

No outro dia não dormimos..
Queríamos a lua, queríamos ser o que não somos, queríamos...
Desde esse dia ela dá-me a mão todos os dias.. que lhe fizeste tu?

Houve uma época que não a vi.
Não sei por onde andou porque nem noticias me deu..
Quando volta das suas viagens
nem se faz anunciar, vem sedenta de ti!
E eu, que tenho um coração tão mole deixo-a ficar..
Desculpa não sou capaz de dizer que não.

Ela é intrometida, é sedutora, é estuosa, é sonhadora,
é tudo o que quisesses que ela fosse.
Ela envergonha-me, rouba-me horas de sono, é o mistério da minha vida!
Ela nunca se vai apresentar (tenho a certeza),
só sei que vive comigo porque tu existes.
mas não a odeio,
não te odeio.
Ela sim, ás vezes odeia-te.
É uma criança que acredita em promessas,
chora quando lhe roubam o chupa da mão
e não adormece se não lhe contares um história.
Só penso que te odeio quando a magoas,
ela não faz parte de mim mas faz parte da minha vida.
Sem ela não nos conhecíamos,
sem ela não te podia escrever estas palavras pois é ela quem as dita,
sem ela éramos água e azeite.

Quando a vires só te peço, não lhe mintas..

Não a consigo ver vazia, a olhar para o chão,
sentada numa estação de comboios, ao frio
a querer fugir outra vez.

...Ela já me conhece tão bem.
Sabe o quanto sou gulosa e anda a aperfeiçoar a receita do meu doce preferido...
"Confunde-me os sentido, mistura-os com sentimentos, leva a lume bem quente.."
Eu não resisto a tartes de maçã envenenadas que dizem:
Para Branca de Neve com muito amor da Bruxa Má.
Sinceramente..é o que ela é!
A minha bruxa má que me alimenta de maçãs
até me fazer adormecer para sempre..

Estou decidida a manda-la embora..
Não concordas com a minha decisão?

Diz-me que acreditas em mim!
Diz-me que acreditas em tudo o que te acabo de dizer..
Eu sei que é loucura,
mas ela é a loucura menor na nossa loucura colectiva.
Ajuda-me a acreditar que ela existe.
Sem ela eu vou comprometer-nos,
vou tentar vencer as leis da química e misturar água com azeite.
Faz-me acreditar que é ela que te escreve e ajuda-me a incrimina-la!
Estamos juntos neste crime!

Olha para mim..
(e em jeito de desabafo)
...cai comigo no chão,
diz que me amas só para parecer bem,
diz que me odeias e encosta-me à parede!
Aguça-me os sentidos com a tua imaginação,
faz-me acreditar que a nossa existência é sexo
dá-me um beijo e nunca mais me abandones.

(a resposta é não sei.)