mercoledì, febbraio 28, 2007

o tempo também se engana...

"... fora de tempo ouviu-se um grito mudo."
in Fora do Tempo, Luis Represas

âmago 10

Todas as Cartas de Amor são Ridículas

Todas as cartas de amor são
Ridículas.
Não seriam cartas de amor se não fossem
Ridículas.

Também escrevi em meu tempo cartas de amor,
Como as outras,
Ridículas.

As cartas de amor, se há amor,
Têm de ser
Ridículas.

Mas, afinal,
Só as criaturas que nunca escreveram
Cartas de amor
É que são
Ridículas.

Quem me dera no tempo em que escrevia
Sem dar por isso
Cartas de amor
Ridículas.

A verdade é que hoje
As minhas memórias
Dessas cartas de amor
É que são
Ridículas.

(Todas as palavras esdrúxulas,
Como os sentimentos esdrúxulos,
São naturalmente
Ridículas.)

Álvaro de Campos

giovedì, febbraio 22, 2007

Lobo Mau, a Lua é mentirosa.

Podes ser mau.
Podem dizer que o és, mas quando te rendes de cabeça erguida ao céu estrelado sei que é a mim que te entregas Lobo Mau.
Mas as noites passam.. e o teu uivo tornou-se a minha dependência e o teu ritual..
Sem ele deixavas de ser o Lobo Mau e eu o sorriso mentiroso da lua..
Há dias de vergonha..há dias em que me escondo e acho que não te posso mentir mais e nesses dias não te ouço.. mas o sorriso é sincero acredita(!), tão sincero como a minha permanência cá em cima.
Sabes Lobo Mau, fiz do nosso ritual a nossa loucura.. tu és um lobo e eu um sorriso prateado.. cativaste-me como fez a rosa com o Principezinho, mas eu nunca poderei descer do céu. Dos uivos só nascem eternos pedidos que quase me fazem cair mas nunca uma escada que me faça descer..
Apenas prometo este eterno sorriso longínquo que mantém o nosso ritual. Tu cativas-me com a tua musica e eu a ti com a minha luz.
Mas este magnetismo mascara o segredo que o meu sorriso esconde e o teu uivo abafa..
- Não é pelo uivar do lobo que a lua um dia descerá do céu...

sabato, febbraio 17, 2007

âmago 9

Amiga

Deixa-me ser a tua amiga, Amor,
A tua amiga só, já que não queres
Que pelo teu amor seja a melhor,
A mais triste de todas as mulheres.

Que só, de ti, me venha mágoa e dor
O que me importa a mim?!O que quiseres
É sempre um sonho bom! Seja o que for,
Bendito sejas tu por mo dizeres!

Beija-me as mãos, Amor, devagarinho …
Como se os dois nascêssemos irmãos,
Aves cantando, ao sol, no mesmo ninho …

Beija-mas bem! … Que fantasia louca
Guardar assim, fechados, nestas mãos
Os beijos que sonhei prà minha boca! …


Florbela Espanca, o livro da mágoas

martedì, febbraio 13, 2007

âmago 8 - dia dos namorados

Amor
Cala-te, a luz arde entre os lábios,
e o amor não contempla, sempre
o amor procura, tacteia no escuro,
essa perna é tua? Esse braço?
subo por ti de ramo em ramo,
respiro rente à tua boca,
abre-se a alma à língua, morreria
agora se mo pedisses, dorme,
nunca o amor foi fácil, nunca,
também a terra morre.


Eugénio de Andrade

(por ser o dia de amanhã representativo de amor conjugal, por estar este ano sozinha e por durante anos ter os dois ultimos versos deste poema de companhia, dedico-o a todos aqueles que tal como eu sabem viver este dia sem o outro.)

Também deixo um breve comentário ao dia dos namorados visto ser o dia mais consumista do ano..
Consomem-se flores, perfumes, roupa, cd’s, chocolates...no fundo sensações ..
Sensações tácteis, olfactivas, gustativas, auditivas e visuais.. é neste dia que se gastam as palavras..é neste dia que a palavra amo-te não se leva a sério por ser o eco da rua.
Nunca dei importância a este dia seja "eu sozinha" ou "eu a dois"...
Adoro receber flores em dias de Inverno porque são raras,
Adoro receber chocolates quando estou triste,
Adoro receber perfumes quando a poluição da cidade me deixa zonza..
Adoro o gestos da boca de quem espontaneamente e inesperadamente chega a dizer que me ama.
Mas neste dia por muito sincero que seja o gesto, lembro-me DO poeta fingidor que fingia que era dor a dor que de veras sente...e os namorados seguindo suas palavras quase que fingem que é amor o amor que de veras sentem.
No entanto, não desprezo este dia porque não é algo que mereça desprezo, apenas me é indiferente..também não fico irritada por ver corações a saírem dos sorrisos de quem namora e a derreterem quando chegam ao pé da minha solidão.
Acho sobre tudo que é um bom dia para valorizar o que achamos lamechas durante todo o ano, e que neste dia nos é permitido gritar aos quatro ventos sem ouvir bocas de reacção.
Aproveito como tal, para deixar aqui mais um dos meus âmagos poéticos, pois esta sim é a minha paixão, as palavras que quase cantadas saem do coração dos nossos poetas e consolam as almas de quem através delas, exterioriza sentimentos e emoções.



venerdì, febbraio 09, 2007

(...) Tempo.. o único factor que faz a lua subir e descer no palco estrelado da sua actuação nocturna deixando nas horas os aplausos de tão maravilhoso desempenho. (...)
(...)Em campo aberto ou em embuscada criamos laços e rituais, criamos palavras opostas e uma ponte de união. (...)

lunedì, febbraio 05, 2007

Beauty is a form of genius - is higher, indeed, than genius, as it needs no explanation. It is of the great facts in the world like sunlight, or springtime, or the reflection in dark water of that silver shell we call the moon.
Oscar Wilde

sabato, febbraio 03, 2007

...

Hello, stranger.

venerdì, febbraio 02, 2007

dias compridos

Nós fazemo-nos depender quando cativamos e temos tendencia a pesar na vida dos outros quando a amizade ou amor se deviam ligar à leveza que devemos saber criar.
Mas tudo nasce no peso, no querer incondicional e na dependência. Esse peso vai evaporando com o calor da consciência, dos valores morais e da razão.
Toda a inconstância de sentimentos, todas as horas mortas em que sofremos trazem-nos recompensa.
Fui má aluna mas aprendi a ser leve.

giovedì, febbraio 01, 2007

sublinhados a lápis 4

(Apetecia-me escrever aqui um capitulo inteiro deste livro, talvez o livro todo... mas quem não conhece a famosa raposa do principezinho?..então acho que não há mais nada a dizer..apenas o deleite que provem da leitura deste livro explica o amor que tenho a este pequeno excerto. A vida é tão simples, nós é que tendemos inexplicavelmente a complica-la.)

"- Não posso ir brincar contigo - disse a raposa. - Ainda ninguém me cativou...
- ...(principezinho) Ando à procura de amigos. «Cativar» quer dizer o quê?
- É uma coisa de que toda a gente se esqueceu - disse a raposa. - Quer dizer «criar laços»...
- Criar laços?
- Sim, laços - disse a raposa. - Ora vê: por enquanto tu não és para mim senão um rapazinho perfeitamente igual a cem mil outros rapazinhos. E eu não preciso de ti. E tu também não precisas de mim. Por enquanto eu não sou para ti senão uma raposa igual a cem mil outras raposas. Mas, se tu me cativares, passamos a precisar um do outro. Passas a ser único no mundo para mim. E eu passo a ser única no mundo para ti...
(...)
- ... (raposa) Mas, se tu me cativares, a minha vida fica cheia de sol. Fico a conhecer uns passos diferentes de todos os outros passos. Os teus hão-de chamar-me para fora da toca, como uma música. E depois, repara! Estás a ver aqueles campos de trigo ali adiante? Eu não gosto de pão e, por isso, o trigo não me serve para nada. Os campos de trigo não me fazem lembrar nada. E é uma triste coisa! Mas os teus cabelos são da cor do ouro. Então, quando tu me tiveres cativado, vai ser maravilhoso! O trigo é dourado e há-de fazer-me lembrar de ti. E hei-de gostar do som do vento a bater no trigo...

A raposa calou-se e ficou a olhar para o principezinho durante muito tempo.

- Se fazes favor... Cativa-me! - acabou finalmente por pedir.
(...)
- E tenho de fazer o quê? - disse o principezinho.
- Tens de ter muita paciência. Primeiro, sentas-te longe de mim, assim, na relva. Eu olho para ti pelo canto do olho e tu não dizes nada. A linguagem é uma fonte de mal entendidos.
Mas podes sentar-te cada dia um bocadinho mais perto...

O principezinho voltou no dia seguinte.

- Era melhor teres vindo à mesma hora - disse a raposa. - Por exemplo, se vieres ás quatro horas, ás três, já começo a estar feliz. E quanto mais perto for a hora, mais feliz me sinto. Às quatro em ponto hei-de estar toda agitada e toda inquieta: fico a conhecer o preço da felicidade! Mas se chegares a uma hora qualquer, eu nunca vou saber a que horas hei-de começar a arranjar o meu coração, a vesti-lo, a pô-lo bonito...
Precisamos de rituais.
(...)
- Adeus...
- Adeus - despediu-se a raposa. - Agora vou-te contar o tal segredo. É muito simples: só se vê bem com o coração. O essencial é invisível para os olhos...
(...)
- Os homens já não se lembram desta verdade - disse a raposa. - Mas tu não te deves esquecer dela. Ficas responsável para todo o sempre por aquilo que cativaste. Tu és responsável pela tua rosa...
- Eu sou responsável pela minha rosa... - repetiu o principezinho, para nunca mais se esquecer."

Antoine de saint-Exupéry, O Principezinho

sublinhados a lápis 3

"Thou Knowest the mask of night is on my face,
else would a maiden blush bepaint my cheek
for that which thou hast heard me speek tonight."

Não fosse a máscara da noite no meu rosto,
um casto rubor me acudiria á face
por teres ouvido o que eu disse esta noite.

IN Retrato de Dorian Gray, Oscar Wilde