domenica, luglio 02, 2006

Exposição (Conclusão)

Agora vejo… Vejo a bagunça que nestes espaços habita, a infinidade de informação que sobre nós cai e dentro de nós se confunde. Informação que por nós não se processa, informação que sai de dentro de nós sem ser digerida, sem nos apercebermos se quer que a absorvemos, que a engolimos.
Então, que retivemos nós do que nos foi mostrado?
Cabe aqui o conceito de exposição?
Sobre a ordem logística necessária para organizar uma linha de pensamentos na visualização e desfrute de uma exposição são encontradas várias alternativas na disposição dos diversos elementos dentro da exposição. Recrio assim, sobre este espaço, uma organização mental dos elementos nele existentes, concluindo que vulgarmente sou uma borboleta buscando a disciplina e organização de uma formiga.
Exposição…como defini-la?
Para mim, ambos os espaços são espaços de exposição permanente, por onde passam exposições efémeras mas onde o Ver é dirigido aos espaços como um Ver contemplativo, de fruição, de admiração. Aqui o olhar do espectador pode ser fotografado como se este estivesse num museu ou sentado numa cadeira numa sala de cinema a Ver um filme. Refiro-me aquelas expressões de sobrancelhas contraídas de interrogação ou aos olhos abertos e queixo descaído de admiração.
Agrupei em várias famílias de elementos cada imagem que retive e da exposição constante que é a faculdade (ou convento de são Francisco) e o chiado, criei as minhas exposições pessoais de cada espaço. Exposições estas, que podem ser reinventadas por outros ou até criadas novas exposições.
Caminho no chiado… até as pessoas que estão sentadas na esplanada da Brasileira fazem parte desta exposição, também elas estão ali a serem Vistas e fotografadas, também elas (pessoas circunstanciais ou habitues) estão em exposição.
Caminho na faculdade… também aqui as pessoas são alvo de atenção; a conhecida imagem alternativa dos alunos de belas artes é fruto de uma exposição, a imagem antiga dos monges com os seus hábitos foi em tempos uma exposição e até mesmo quando entro na sala de desenho para ter aula e Vejo o modelo nu, rodeado de holofotes e cravado com o nosso olhar atento reparo que também ele está em exposição.
Então este conceito define-se da imagem, da forma empírica ou organizada como o interpretamos. Não é apenas mais uma palavra no dicionário.
Aplico assim nestes espaços o meu conceito de borboleta.
Borboleta…?
Explicação:
relativamente a espaços de exposição
1 – circuito de formiga → corredor recto que para se Ver o elemento B se tem de passar pelo elemento A.
2 − circuito de gafanhoto → sala grande em que podemos seleccionar o que se Vê passando o elemento A para se Ver o elemento B sabendo que podemos voltar a Ver o anterior.
3 – circuito de borboleta → espaços a céu aberto em que há pistas para se chegar de uns elementos aos outros em que o percurso é uma descoberta pessoal.
E assim nos é exposta uma ideia, um significado. Mas tal como na escrita simples de um poeta bucólico de espécie complicada também os espaços existem para fruirmos da sua característica especial de singularidade e não para pensarmos sobre eles.
Que importa se somos formigas, gafanhotos ou borboletas? Cada espaço tem as quebras necessárias entre cada tipo de informação para a próxima ser absorvida não como continuidade da anterior mas como uma novidade a adquirir.
Volto então a olhar para as imagens que captei e sinto necessidade de as voltar a misturar, afinal, também nós, seres humanos, não estamos compartimentados. Somos o nosso individual e único sistema de organização na confusão que é a descoberta dos nossos elementos constituintes para posteriormente ou permanentemente expormos a imagem de nós a nós próprios e ao mundo que nos rodeia.

******REFLEXÃO*****

Releio o texto e sinto necessidade de uma ideia simplificada…
Recorro então ao Poeta!

O meu olhar é nítido como um girassol.
Tenho o costume de andar pelas estradas
Olhando para a direita e para a esquerda,
E de, vez em quando olhando para trás...
E o que vejo a cada momento
É aquilo que nunca antes eu tinha visto,
E eu sei dar por isso muito bem...
Sei ter o pasmo essencial
Que tem uma criança se, ao nascer,
Reparasse que nascera deveras...
Sinto-me nascido a cada momento
Para a eterna novidade do Mundo...

(...)


Alberto Caeiro, O Guardador de Rebanhos

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